Porque o discurso do Joaquim Ferreira contra a Piovani não me pegou

Então um colunista critica um programa de beleza. A apresentadora deste mesmo programa rebate. E, como uma boa discussão midiática, isso vai parar no jornal com uma “bela” resposta do próprio colunista. Ou é assim que tentam pintar. Para mim, o caso Joaquim Ferreira vs Luana Piovanni (se não sabe do que estou falando, leia aqui) mostra uma faceta que muito me incomoda quando a discussão toca os padrões de beleza.

Como mulher que, claramente, não se encaixa nesses malditos padrões de beleza (e não por falta de tentativas), sinto meu ego inflado quando leio outras pessoas falando que estes mesmos padrões estão errados. Acho que é um acalento, é quase como saber que não estou sozinha no mundo. Do lado emocional, leio um texto desse e penso “puxa, então não to ficando maluca”. Mas, como mulher, apenas mulher, tenho que começar a questionar isso. Por que que, raios, a minha beleza está veiculada ao olhar de um homem que nem conheço? Gorda ou magra, com o cabelo curto ou comprido, com ou sem maquiagem, com ou sem decote, com ou sem salto,  é fato, vai ter sempre alguém que vai reprovar. SEMPRE. Agora, por que eu, mulher, devo pautar a minha vida por isso?

O texto superficialmente “elogioso” do Joaquim Ferreira, e que é copiado por muitos homens que se acham feministas e que falam ‘eu gosto de mulher com carne”, ou “prefiro as mulheres mais naturais, odeio maquiagem”, quando visto com profundidade tem um machismo intrínseco. Ao alardear o “não padrão” ele também cria um padrão, como se falasse para as mulheres: “hey, não se preocupa, voce vai ser amada mesmo se for gorda”. Mas, por que eu preciso querer ser amada ou desejada por um homem? Por que fazer disso um objetivo de vida?

Veja bem, não estou querendo dizer que não é bom ser amada ou desejada por um homem. Nem que eu não goste disso. Nem que, às vezes, eu não foque isso em uma pessoa específica. Apenas que, caramba, não dá para fazer disso um objetivo final de vida. O que é muito comum quando se trata do discurso da beleza feminina. Muitas meninas bonitas que eu conheço já escutaram a famosa frase “mas você está estudando para que, afinal, é tão bonita”. Infelizmente, para uma (boa) parte das pessoas a mulher deve almejar ser bonita e desejável para conseguir o sucesso. Um discurso que, nem preciso dizer, não está exatamente em pauta quando se trata de homens, que podem escolher ser vaidosos  ou não.

No final das contas, tanto Joaquim Ferreira quanto a Piovani pisaram no tomate. Isso porque os dois deslocaram o olhar da beleza feminina aos homens, como se conseguir um olhar de aprovação ou uma cantada fossem uma missão na vida de toda mulher. Na minha humilde  opinião, homens e mulheres deveriam ser livres para se acharem lindo/as do jeito que quiserem. A beleza deveria partir da própria pessoa, de uma visão própria de bem estar. Ou melhor, no lugar de falar para a mulher “o que voce deve vestir para atrair um homem”, deveriam dizer “o que voce pode vestir que te faça sentir bem”.

 

P.S.: E, me desculpem os homens, mas parar de citar Vinícius de Moraes é FUNDAMENTAL. 

2 pensamentos sobre “Porque o discurso do Joaquim Ferreira contra a Piovani não me pegou

  1. Achei bastante positiva a sua colocação. Acredito que os conceitos do tipo que mulher fica bonita para outra ou para os homens só reforça um estereótipo vazio. Eu mesmo fico bonita pra mim, não para os outros.

  2. Não acho que o colunista tenha tido a intenção de inspirar os “homens que se acham feministas”; o primeiro texto, que originou a discussão (http://joaquimferreiradossantos.blogspot.com.br/2013/04/a-verruga-da-sabrina-sato.html), é abertamente machista. E o ponto central dele não é nem sobre beleza ou padrões de beleza, é sobre sexo mesmo. Ainda diz com todas as letras que mulheres “feias” se esforçam mais para agradar os homens no sexo, para “compensar as falhas”.
    Mas saindo dos textos desse colunista (que eu não conhecia e achei extremamente pretensioso, um Xico Sá piorado), não são muitas as pessoas, tanto mulheres quanto homens, que cuidam da própria aparência apenas para se sentir bem com elas mesmas, e não para passar para outras pessoas uma imagem que consideram adequada (ou, indo além, tentar passar a imagem que outras pessoas considerariam adequada). A maioria busca alimentar a autoestima através da aceitação pelos outros, ou da admiração dos outros. É assim não só com a aparência física, mas com qualquer coisa que possa afetar a percepção alheia sobre a pessoa em questão: ostentar posses, dizer o que os outros querem ouvir/ler, exibir seus feitos, suas obras, seus triunfos, seus orgulhos. Até alardear suas próprias dificuldades, como quem espera despertar admiração por suportá-las. Tudo isso é para se sentir admirado(a) e/ou invejado(a) por outras pessoas, inclusive desconhecidas. Não sei bem qual é a explicação da psicologia para isso, em que campo da teoria se encaixa (confesso que fiquei com vergonha de nunca ter lido sobre isso), mas com certeza é um tema recorrente.
    Fugi um pouco, de propósito, da discussão específica sobre o discurso da beleza feminina, para tentar filtrar a parte que diz respeito ao machismo – absurdos como o “você está estudando para quê?” – e dizer que a aparência física é só um de vários campos em que a autoestima, para muita gente, passa por acreditar que se causou uma boa impressão a outros indivíduos e não apenas estar satisfeito consigo mesmo. Agora, se uma mulher achar que deve ter como objetivo de vida atrair um homem, ela que tenha… e vai achar homens que valorizam isso. É o que a Luana Piovani transmite, nesse comentário típico de mulher machista. E aplausos para as mulheres que têm personalidade suficiente para não cair nessa.
    Para terminar, voltando ao assunto padrões de beleza, uma trilha sonora: http://www.youtube.com/watch?v=Qnu0Mww49us

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