Sete entre dez

[Nan Goldin, Nan One Month After Being Battered, 1984]

Sete entre dez mulheres no mundo irão sofrer ou já sofreram algum tipo de violência. Sete entre dez. Sem nenhuma ajuda, este número já me dá enjoos e involuntários pensamentos pessimistas. A proximidade que tenho com esse assunto, no entanto, dá uma realidade ainda mais torturante para este número maldito, sete entre dez.

Conheço e divido o DNA com mulheres que sofreram agressões. Mulheres fortes, incríveis e que admiro por demais, presas em cativeiros pessoais, com direito a pesadas agressões dentro de casa. Pude testemunhar o que um homem que se diz apaixonado é capaz de fazer por ciúme e por amor. O que o instinto furioso dentro deles pode fazer. Testemunhei a quase morte de mulheres de minha família. A quem amo e respeito muito. Sete entre dez não são só sete entre dez. São milhares entre dez. Uma mulher agredida não sofre sozinha, os filhos, primos, tios, sobrinhos e vizinhos sofrem com ela. Sofrem com os machucados mas também com a  impunidade e com a inépcia da Justiça. Morrem um pouco com cada ameaça e com a sensação de impotência.

Tenho orgulho, mas também tenho medo, muito medo de ser mulher nesse País. Medo de ser atacada em qualquer canto escuro. Medo de ser assediada em um ônibus num dia de calor e, pior, ser culpada por isso porque “estava usando um short curto” ou “o decote estava grande demais”. Medo de beber demais em alguma festa e acabar desacordada e nua na cama de “amigos”. Medo de ser machucada, literalmente, por alguém que ganhou a minha confiança. No fim, medo de ser quase morta por alguém que amo e que, em algum momento, jurou me amar também.

Queria não ter proximidade com este tema. Ao mesmo tempo que gostaria, intimamente, que todos tivessem algum tipo de ligação com ele. Assim não seria tão banal.